domingo, dezembro 17, 2006

Inter x Barça (antes do jogo)

Inter x Barça: "sí, se puede !"

Barcelona x América foi um massacre de um time espetacular e em dia inspirado sobre uma equipe tecnicamente inferior e que ousou jogar de igual para igual, sem se preocupar com a marcação. Ao menos essa foi minha primeia impressão. Porém, quanto atentamente revi a partida em VT, reconsiderei um pouco a minha opinião. Não que o Barcelona não seja realmente um espetáculo para os olhos, mas na comparação com o recente jogo contra o Werder Bremen, os catalães foram mais lentos e pressionaram menos a saída de bola adversária. Em outras palavras, o Barcelona poderia ter jogado ainda mais. Em compensação, em termos de plasticidade, dificilmente o time espanhol conseguirá algo semelhante na temporada.

Por sua vez, o América tinha um plano de marcação arquitetado. Pelo menos no primeiro tempo, eles tentaram pressionar a saída de bola e, mesmo já próximo à própria área, poucas vezes um atacante barcelonista pegou na bola sem que houvesse um marcador bem posicionado. Mas aí residiu um dos quatro problemas do time mexicano: a marcação era muito distante, nada agressiva. As escassas 12 faltas cometidas contra um advesrário com 65% de posse de bola, foram um bom indicador dos resultados práticos da estratégia mexicana. Ela facilitou o toque de bola rápido, arma letal do Braça.

O segundo erro foi encarregar o lateral direito Castro de marcar individualmente a Ronaldinho. Não foram assim tantas as vezes em que o gaúcho teve chance de desequilibrar, nas uma delas bastou para participar de uma brilhante jogada de Iniesta, a qual resultou no primeiro gol. A conclusão é que mesmo uma boa marcação individual não é capaz de anular um craque por 90 minutos. O erro foi ainda maior porque Castro é uma das principais opções ofensivas da equipe, pois é rápido, habilidoso e chega fácil à linha de fundo. Tanto isso é verdade que, na segunda metade do primeiro tempo, Castro abandonou a função e passou a subir justamente às costas de Ronaldinho, aproveitando-se do espaço para diminuir um pouco a pressão barcelonista. O que faltou foi qualidade para que o América marcasse contra um barcelona não mais tão avassalador.

O terceiro problema do América foi a saída de bola extremamente lenta e repetitiva, o que facilitava sobremaneira o trabalho defensivo da meia-cancha adversária. Por fim, o América escalou três atacantes (Cuevas, Cabaãs e C. Lopez), mas nenhum deles com características para explorar a deficiência da defesa barcelonista na bola aérea e nem atentos no acompanhamento da subida dos laterais adversários.

A partir dessas considerações, pode-se projetar um Inter x Barcelona um pouco menos desfavorável (aos colorados, claro) do que o rescaldo das semifinais inicialmente encejava:

1) o Inter é muito mais agressivo na marcação do que o América;

2) o América nao tinha um Fernandão, ou seja, um bom cabeceador e um pivô que escora bolas altas para as entradas de atacantes velozes contra a defesa alinhada e adiantada do Barça;

3) a menos quando a tarefa cabe a Edinho - e esse foi um dos problemas contra o Ahly- a saída de bola do Inter é mais rápida que a do América e Fernandão sempre será uma opção para dominar uma bola mais longa e quadrada e girá-la para outro jogador dar continuidade a uma situação inicialmente complicada; o América náo tinha um jogador com essa condição;

4) mesmo que Fabiano Eller não venha repetindo as melhores atuações do ano, a dupla de zaga colorada é muito superior à do América;

5) espera-se que os jogadores do Inter entrem em campo menos ansiosos e errando menos passes do que na estréia;

Descontado o imponderável (erros grosseiros, expulsões, bolas na trave, etc...), duas serão as chaves do jogo: a forma de marcar Ronaldinho (mas também a "Companhia") e a atuação de Fernandão.

Em primeiro lugar, a atuação de Castro provou que marcação individual não é garantia de sucesso. Trata-se de um conceito ultrapassado e que atualmente só é empregado em condições muito particulares. Mas não acho que Inter x Ronaldinho seja uma dessas. Ainda mais porque Iniesta e Deco é quem são os "motorzinhos" do time. Se, por exemplo, Ceará for um marcador individual, talvez o Inter perca seu melhor cruzador e ainda deixe um perigoso espaço vazio na lateral nos momentos em que Ronaldinho sai da ponta para o meio.

Em relação à Fernandão, ele deverá ser orientado a jogar numa faixa do campo em que possa jogar com pivô, mas sem deixar a a meia-cancha com apenas três marcadores. Sinceramente, não sei como chegar a esse equilíbrio, mas essa é a tarefa para a qual Abel é muito bem pago. O certo é que ele não pode jogar como na primeira partida, quando foi excelente na marcação e na saída de bola, mas, muito recuado e aberto pela direita, acabou distante demais da dupla de ataque.

Emfim, é nítido que o jogo é muito difícil e que é preciso uma atuação primorosa para que o Inter erga a taça. Mas, como costumam dizer as torcidas sul-americanas de língua espanhola nestas ocasiões de teórica inferioridade, "Sí, se puede !!!! "

PS: se Abel tivesse pensado nisso antes, e treinado em jogos oficiais, uma boa alternativa pro Inter seria usar o 3-5-2. Indio sobre Gudjohnsen, Edinho na sobra, e Fabiano Eller, o mais rápido dos zagueiros, mais aberto para pegar Giuly. No meio, uma linha de 4 marcadores, com Ceará, Vargas, Wellington Monteiro e Alex. Assim, teriamos 4 jogador com passe bom e rápido (especialmente Vargas) . Vejam que, com essa formação, o time se livra de Rubens Cardoso e da lenta e deficiente saída de bola com Edinho. Essa linha de 4 seria responsável por pressionar Ronaldinho, Deco e Iniesta, mais um dos laterais. Iarley e Pato teriam que se revezar na vigilância dos avanços do outro lateral. Deste modo, Fernandão poderia jogar um pouco mais adiantado, em melhores condições de executar a funação de pivô e prendendo Motta.