terça-feira, novembro 14, 2006

Conhecendo o Al-Ahly

POR QUE ME INTERESSO PELO AHLY

Desde criança eu tenho a opinião de que o “mundial interclubes” é um torneio que vale mais pela premiação e projeção internacional do que pela sua representatividade, uma vez que os europeus jamais deram muita importância à essa competição, por eles mais modestamente conhecida como Copa Intercontinental. Aliás, esse sempre foi o seu nome oficial, até passar a ser organizada pela FIFA, que mudou sua denominação para Copa do Mundo de Clubes. De toda forma, sempre procurei assistir às partidas pela oportunidade única de ver o confronto entre clubes de continentes diferentes. Justamente por esse tipo de curiosidade, como também pela participação do Inter, assisti aos dois jogos entre Al-Ahly e C.S. Sfaxien que decidiram a Liga dos Campeões da África, passando a conhecer um pouco mais sobre o provável primeiro adversário do Colorado no Japão. Os jogos finais, assim como várias partidas das fases anteriores da Liga dos Campeões da África, foram transmitidos ao vivo, em árabe, pela emissora libanesa ART, canal 58 da NET.


QUEM É O AHLY

Antigamente conhecido pelo britânico nome de "National", o clube de maior torcida do Egito é vermelho e branco como o Inter e possui 31 títulos nacionais. Assim como o Zamalek, seu histórico rival na cidade do Cairo, sagrou-se campeão africano cinco vezes, e com o bicampeonato continental, passou a liderar o ranking de todos os tempos dos clubes da Confederação Africana de Futebol. Como semiprofissionais do Auckland City não devem ser páreo para ninguém, o Ahly tem tudo para ser o primeiro adversário do Inter na Copa do Mundo de Clubes.

OBSERVAÇÃO SOBRE OS NOMES DOS JOGADORES

Antes de comentar sobre o futebol praticado pelo Ahly, é preciso esclarecer uma questão sobre os nomes dos jogadores. Uma vez que não há regras formais para a transliteração (conversão de caracteres) do árabe para o alfabeto ocidental, os nomes dos jogadores egípcios costumam ser escritos e pronunciados de formas muito diversas nos jornais e tevês. Assim, seus nomes aparecerão aqui tal qual pronunciados em árabe. A única exceção é a letra H, cujo som aspirado é semelhante ao J espanhol (exemplos conhecidos são os nomes Ahmed e Mohammed). A forma escrita mais usual, quando diferente da fonética, aparecerá entre parênteses.

COMO JOGAM OS EGÍPCIOS

O esquema de jogo do Ahly, tal qual o da seleção nacional, é um 3-5-2 clássico. O time começa pelo goleiro El Hádary, titular da seleção egípcia. Foi o melhor da posição na última Copa da África, conquistada pelo próprio Egito, em casa, mas apesar de uma aparente segurança, por vezes comete falhas clamorosas. À sua frente, os três zagueiros postam-se de forma bem ortodoxa: o pesado rebatedor Djúma (Wael Gomaa) é o stopper pela direita, Mohamed Sedík é o fraco marcador do lado esquerdo e Chédi (Shady) fica fixo na sobra, alguns metros atrás. Apenas Djúma joga pela seleção nacional. Nenhum dos três costuma avançar com a bola nos pés, mas o líbero Shédy usa com alguma freqüência o lançamento longo e direto para que os atacantes escorem a bola.

A meia cancha tem dois alas muito ofensivos, dois volantes que avançam bastante e um meia-armador. Barakat, que foi escolhido o melhor jogador da África em 2005, é ágil, habilidoso e criativo. Começou jogando como articulador, mas devido à sua fragilidade física, foi deslocado para a ala-direita, tanto no clube quanto na seleção. As opções a Barakat são os laterais Abdála e El Sháter. Do lado esquerdo, o mais agudo Kenáui (Ahmed Shadid Kenawi) chega mais à linha de fundo. Ele substitui o ótimo Abdelwahab, tragicamente morto num acidente automobilístico. A cobertura dos alas é feita pelos volantes Chóuki (Shawky) e Achúr (Hossam Ashour). Contudo, ambos vão com freqüência ao ataque. Achúr destaca-se mais pela movimentação e passe curto. Chóuki é mais lento, mas fisicamente mais forte, experiente (titular da seleção) e possuidor de um forte chute de longa distância.

Quem completa a meia-cancha é Abutríka (Aboutraika/Abotreika), considerado o grande nome do time e principal candidato a melhor do ano no continente. Ele é um meia-articulador clássico, de bom porte físico e passada elegante. Foi artilheiro da Liga dos Campeões graças aos potentes chutes de fora da área e às finalizações de bola parada. Apesar de ter aparecido pouco na partida, foi dele o gol que decidiu o título africano, nos acréscimos do segundo tempo. As principais alternativas para a meia-cancha são o volante ganês Akwetey Mensah e os articuladores Riád e Mustafá, ambos com passagens pela seleção.

O ataque costuma ser formado pelo selecionável Motéb (Emad Moteab) e pelo angolano Flávio, autor de um gol na Copa do Mundo da Alemanha. Motéb não é alto, mas joga enfiado entre os zagueiros. É razoável nos quesitos técnica e velocidade, mas sua especialidade é perder gols. Diferentemente do conceito brasileiro de movimentação pelos lados do campo, Flávio é um segundo atacante que atua atrás do centroavante, jogando freqüentemente como um pivô e buscando a conclusão de média distância. No segundo jogo da final, o treinador Manuel José optou por adiantar Flávio para a posição de centroavante e incluir o baixinho Mustafá como articulador mais avançado. No entanto, o Ahly passou a dominar o adversário somente após a entrada de Motéb e o recuo de Flávio à posição original. Wael Riad também entrou bem na partida, com menos técnica, mas mais objetividade na articulação.

Em resumo, ao menos contra times do seu porte, o Ahly costuma ser bem ofensivo e procura impor o seu ritmo de toques de bola na meia-cancha. Os egípcios usam bastante as duas laterais (mais freqüentemente a direita, mas com maior agudeza na esquerda), e finalizam muito de fora da área. Do meio para frente, todos os jogadores tem boa técnica, incluindo algumas opções de banco. Praticamente todas as ações ofensivas da equipe passam por Abutríka e o penúltimo toque vem dos pés ou da cabeça de Flávio. Mas é um time que sofre muito para transformar seu volume de jogo em gols, que saem mais freqüentemente das jogadas de bola parada. A defesa, por sua vez, é relativamente lenta, um tanto quanto desatenta e fraca na bola alta cruzada desde o fundo. O lado mais frágil aparenta ser o esquerdo.